sábado, 17 de março de 2012

Resenha do livro Educação Infantil e Registro de Práticas


Resenha elaborada por Maria Mara Miranda Rodrigues, pós-graduanda do curso Educação Infantil e Suas Linguagens (turma A) do Instituto de Ensino Superior Funlec.


Resenha Crítica do livro: Educação infantil e registro de práticas/Amanda Cristina Teagno Lopes. São Paulo: Cortez, 2009 (Coleção docência em formação. Série Educação Infantil).

As pesquisas atuais na área da Educação têm apontado para a necessidade de profissionais que, pesquisem, estudem e, acima de tudo, que produzam conhecimento, tornando-se autores de sua prática pedagógica. Sobre esta questão podemos destacar os estudos realizados por Amanda Cristina Teagno Lopes, doutora em Educação pela Universidade de São Paulo, que publicou no ano de 2009 o livro “Educação Infantil e registro de práticas”.

Trata-se de uma obra que oferece ao leitor reflexões sobre o registro de práticas como um dos instrumentos de formação, diálogo e autoria docente. Para este fim, a autora dividiu o livro em quatro capítulos, além das considerações finais, contemplando um total de 199 páginas.

Lopes inicia a discussão fazendo uma abordagem teórica acerca do conceito de registro e sua importância, reportando-se a diferentes pesquisadores da área que tratam sobre a temática. Apesar de utilizarem conceitos próprios sobre o que vem a ser o registro, os autores pesquisados são categóricos em afirmar a importância dele para destacar a prática pedagógica como objeto de estudo, para identificar a subjetividade docente e, principalmente, como meio de divulgação e socialização de experiências, o que muito contribui no que diz respeito à formação do professor em um processo refletivo e de autoria.

A autora preocupa-se ainda, em rever os registros de práticas produzidos pelos docentes em outros tempos, uma vez que para ela, memória e registro são termos indissociáveis. Desta forma, faz um breve apanhado histórico sobre o registro no contexto da Educação Infantil.

Visando defender a importância do registro de práticas, Lopes apresentou diversos materiais produzidos por ela, durante o período em que trabalhou como professora na Educação Infantil. Entre os diferentes tipos de registros existentes (diários, semanários, planos de ensino, relatos, etc.) a autora destacou durante a pesquisa, os cadernos de registros e portfólios de projetos que escreveu durante sua atuação em sala de aula.

Em suas narrativas, Lopes defende que além de valorizar o saber do professor, os registros de práticas possibilitam pensar a criança como produtora de conhecimentos, capaz de deixar marcas, registros de seus sentimentos.

Concordamos com a autora, uma vez que percebemos a riqueza expressa nos registros produzidos pelas crianças aliados aos produzidos pelo professor, visando à construção da identidade do grupo, além de permitir momentos de avaliação do processo de aprendizagem:
Uma prática pedagógica que conceba a criança como sujeito de saberes e que se articule a partir de um currículo no qual esses saberes são considerados deve ter a criança como parceira de todas as ações, inclusive na construção dos registros de acompanhamento da prática pedagógica. (MICARELLO, 2010).
Amanda Lopes é bastante clara ao defender a escola como um local privilegiado para o diálogo e a socialização de saberes, percebendo professores e alunos como produtores e autores de sua história. Neste sentido, assim como a autora pontuou, destacamos a necessidade de o professor identificar a importância do ato de registrar, não sendo este um processo mecânico, mas provido de reflexão e análise sobre a prática pedagógica, buscando constantemente a autoria em suas produções:
Para aluno estudar, professor precisa estudar.
Para aluno ler, professor precisa ler.
Para aluno pesquisar, professor precisa pesquisar.
Para aluno elaborar, professor precisa elaborar.
Não há aluno autor sem professor auto
r. (DEMO, 2008)
Como podemos identificar na fala de Pedro Demo (2008), é fundamental que o professor estude, leia, pesquise e elabore, percebendo seu trabalho docente como objeto de estudo, reflexão e criação. Valorizar os registros docentes como instrumentos formativos é reconhecê-los como porta-vozes de saberes, como meios de diálogo, socialização de experiências e reflexão na ação, pois “o Registro é um grande instrumento para a sistematização e organização dos conhecimentos (...). através de textos, os conhecimentos ali gestados podem, por exemplo, atingir outros grupos.” (WARSCHAUER, 1993).

Neste sentido, acreditamos, assim como defende Lopes, que as escolas devem priorizar condições para que as práticas de registro e produção sejam efetivadas e que o registro deixe de ser um processo individual para tornar-se coletivo, como parte da própria cultura escolar, sendo incorporado inclusive no Projeto Político Pedagógico da instituição, pois “(...) é refletindo sobre os desafios enfrentados na prática que o profissional reconstrói a teoria e apropria-se de seu fazer, tornando-se livre para agir conscientemente” (MICARELLO, 2005, p. 148).

Finalmente, cabe destacarmos que a obra de Amanda Lopes é uma excelente aquisição não apenas para os estudantes e profissionais que buscam a formação inicial, mas também para aqueles que já estão em sala de aula, visando à formação continuada e, consequentemente, a melhoria da qualidade do ensino. Além disso, o livro sucinta novas ideias no que diz respeito à forma de registrar, servindo como base para os profissionais que estão iniciando no processo de registro de práticas pedagógicas.

REFERÊNCIAS:

DEMO, Pedro. Autoria. In: ____. Metodologia para quem quer aprender. São Paulo: Atlas, 2008.
MICARELLO, Hilda. Formação de profissionais de Educação Infantil: “sair da teoria e entrar na prática?” In: KRAMER, S. (org.). Profissionais de Educação Infantil: gestão e formação. São Paulo: Ática, 2005.
_____________. Avaliação e transições na Educação Infantil. Anais do I Seminário Nacional: Currículo em Movimento – Perspectivas atuais. Belo Horizonte, novembro 2010.
WARSCHAUER, Cecília. A roda e o registro: uma parceria entre professor, alunos e conhecimentos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.

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